Entre 1930 e 1964, o Brasil transitou de uma economia agrária para uma economia de base industrial. Tal movimento foi acompanhado por um debate longo, apaixonado e abrangente, logo polarizado por uma ideia central: o subdesenvolvimento seria superado por meio de uma industrialização capitalista, porém planejada e apoiada pelo Estado. Essa foi a marca do “ciclo ideológico do desenvolvimentismo”, que começou em 1930, experimentou um auge a partir de 1945 e entrou em crise no início da década de 1960. Nesse período decisivo, em que se lançaram as bases da configuração atual do nosso sistema produtivo, nossos pensadores imaginaram novos caminhos para uma sociedade mutante, associando suas ideias econômicas a diferentes projetos de modernização do Brasil.
A produção intelectual dessa época compreende dezenas de milhares de páginas, em livros, periódicos e documentos governamentais. A grande maioria delas – e, certamente, a totalidade das mais relevantes – foi reunida, sistematizada e analisada por Ricardo Bielschowsky durante a preparação deste livro, obra única na historiografia econômica brasileira. Na primeira parte, o autor apresenta as posições adotadas pelas grandes correntes ideológicas do período, desde o pensamento ortodoxo, passando pelas várias vertentes do desenvolvimentismo, até os economistas socialistas. Com clareza e imparcialidade, resume e comenta as obras de Roberto Simonsen, Eugênio Gudin, Roberto Campos, Celso Furtado, Caio Prado Júnior e Ignácio Rangel, entre outros. Na segunda parte, as mesmas ideias reaparecem, agora discutidas à luz das diferentes conjunturas econômicas e políticas, explicitando-se a relação entre a produção intelectual e o processo real.
Aos menos familiarizados com a época, a leitura traz, pelo menos, três grandes surpresas: a alta qualidade do debate, realizado num período em que as faculdades de economia apenas começavam a existir e era débil, ou mesmo nula, a vinculação acadêmica dos debatedores; a clareza com que as elites políticas e intelectuais passaram a compreender a natureza do processo socioeconômico em curso; por fim, a presença exaustiva de todos os temas que frequentam a agenda brasileira atual.
Escrito originalmente como tese de doutoramento na Universidade de Leicester, Inglaterra, “Pensamento econômico brasileiro” recebeu o Prêmio Haralambos Simeonides da Associação Nacional de Pós-Gradução em Economia (Anpec). Foi publicado pelo Ipea e logo esgotou. Relançado pela Contraponto, tornou-se obra de referência para professores e alunos de economia, bem como para todos os interessados no debate brasileiro do século XX.