| Carta do Editor / Carta do EditorA cultura do Pali Pali
 David Cohen
 Débora exercita a arte de escrever em coreano. Vai encarar um su-neung?
 Quando se fala em inovação nos negócios, é comum pensarmos em empresas repletas de jovens
 trajando bermudas, com horário flexível, às vezes até um cachorro deitado ao lado da mesa de
 trabalho. É o estereótipo do Vale do Silício (embora os sócios da companhia que iniciou a fama do
 vale, a Hewlett-Packard, usassem gravata).
 Pois bem. Há outros gêneros de inovação. E um dos mais bem-sucedidos é quase o oposto do
 espírito californiano. Baseia-se na disciplina, no esforço, no estudo. Estamos falando da Coreia, um
 país que partiu de uma pobreza extrema na década de 60 e hoje tem a população mais educada do
 planeta (de acordo com testes internacionais aplicados a estudantes de 15 anos, descontando a China,
 que envia apenas alunos da avançada Xangai para fazer a prova), uma renda per capita de US$ 29
 mil, cidades que se transformaram em ambientes saudáveis, empresas fortes que crescem e ganham
 mercado por todo lugar.
 É um país bem diferente do Brasil. Não tem nossa exuberância de recursos naturais, exercita uma
 cultura milenar e o jeito de pensar oriental, é rígido (às vezes rígido demais: os castigos físicos só
 este ano foram proibidos nas escolas, e o índice de suicídios é o mais alto da OCDE). Mas traz lições
 valiosas, principalmente para empresas interessadas em inovar, crescer, ganhar mercado. “O que
 mais chama a atenção na Coreia é o comprometimento com metas. Eles não param enquanto não
 atingem seu objetivo”, diz a editora-executiva Débora Fortes, que passou duas semanas mergulhada
 no universo coreano. “Outra característica impressionante é o grau de planejamento. Eles estudam
 muito o mercado para escolher em que áreas investir – não querem entrar em nada para perder.” Isso
 existe em todos os níveis. O vestibular (su-neung), por exemplo: os coreanos estudam para ele desde
 criancinhas. Débora foi uma escolha natural para fazer essa reportagem. Não apenas por sua extraordinária
 capacidade de apreender informações, cativar fontes, extrair declarações reveladoras, observar a
 realidade e transmitir tudo isso com graça e clareza. Também por outros dois motivos. O primeiro:
 Débora tem ampla experiência em cobertura jornalística do mundo da tecnologia, e estava por isso
 em posição privilegiada para observar diferenças, questionar, refletir sobre o caminho coreano. O
 segundo: Débora nasceu com algo que está no cerne da cultura coreana. Para ela, o trabalho tem de
 ser pali pali (rápido, rápido). E – como você pode conferir nas 26 páginas de sua reportagem –
 ótimo, ótimo.
 David Cohen
 Diretor de Redação
 dcohen@edglobo.com.br
 http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT262445-16350,00.html 2011-09-14
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