Apresentador: Olá você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora o Café com o Presidente o programa de rádio do presidente Lula. Olá, presidente, como vai? Tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, o senhor acabou de chegar de uma viagem à Arábia Saudita, China e Turquia. Vamos começar pela Arábia Saudita. Como é que foi a viagem a este país?
Presidente: Olhe, há muito tempo eu vinha defendendo que nós deveríamos fazer uma visita à Arábia Saudita por algumas razões. Primeira, porque a Arábia Saudita é o nosso maior parceiro comercial dos países árabes; ou seja, nós temos um fluxo de balança comercial de US$ 5,5 bilhões. Mas, ao mesmo tempo, a Arábia Saudita representa 60% do PIB (Produto interno Bruto) dos países do Conselho de Cooperação do Golfo. Portanto, é o país mais importante da região e um país que tem um potencial extraordinário nas trocas comerciais com o Brasil. A Arábia Saudita está em um grande processo de desenvolvimento, ou seja, muito investimento. Eles estão pensando em construir três cidades novas: cidade tecnológica, cidade industrial, cidade de turismo, e o Brasil pode ser um grande parceiro exportador de serviços, exportador de engenharia. Portanto, o encontro foi extraordinário. Tivemos uma conversa de mais de duas horas com o rei Abdullah, e eu acho que vai render para o Brasil, ou seja, era o último país grande que nós precisávamos visitar no mundo árabe, visitamos e eu penso que a perspectiva de troca de comércio entre Brasil e Arábia Saudita vai aumentar e vai aumentar muito, sobretudo, na área de serviço.
Apresentador: E na China, presidente? Foram fechados novos acordos? Que novidades o senhor trouxe de lá?
Presidente: Foi uma viagem, eu diria, de todas as que eu fiz, foi a melhor. Nós fechamos acordo na questão do frango. Também temos perspectivas boas de fechar acordo na questão da carne. Mas foi importante porque teve acordo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) com o Banco de Desenvolvimento da China, teve acordo do Banco do Brasil, teve acordo do banco Itaú. E o que era mais importante, que nós fomos atrás, ou seja, era que, finalmente, o Banco de Desenvolvimento da China emprestou os US$ 10 bilhões que a Petrobrás precisava para explorar o pré-sal. E a China, ela tem muito interesse em estabelecer investimentos no Brasil em projetos que também interessam à China, sobretudo na área de petróleo, na área de commodities. E nós vamos trabalhar isso de forma muito intensa e nós queremos ainda, nas próximas reuniões, ir convencendo os chineses a comprar os aviões da Embraer. Porque nós temos um contrato de 45 aviões, mas, até agora, e eu acredito que por conta da crise, eles não deram sequência na compra dos aviões. Mas, certamente, a China vai comprar os aviões. é apenas uma questão de tempo. E nós temos que ter paciência que tanto o Brasil quanto a China, ou o Brasil e outro país, na hora de fechar um acordo a gente pensa muito. A gente tem que discutir com todos os segmentos envolvidos, para fazermos um acordo em que todos ganhem e que ninguém perca. E a conversa minha com o Hun Jintao era para que a gente sentasse em torno de uma mesa, negociasse o que fosse possível negociar, fizéssemos acordo sobre tudo, sempre levando em conta que cada país tende a proteger um pouco determinados setores, que podem ser mais frágeis, sabe, no mundo econômico, no mundo industrial. Aquela tese nossa de que era preciso mudar a geografia comercial do mundo, não ficar dependendo apenas dos Estados Unidos ou da União Europeia deu certo, porque o Brasil hoje tem uma relação comercial diversificada, muito ampla e a tendência é a gente crescer ainda mais.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula. Presidente, o senhor esteve pela primeira vez na Turquia. Aliás, o senhor foi o primeiro mandatário do Brasil, depois de Dom Pedro II, a visitar aquele país. Como é que foi essa visita?
Presidente: Olha, a Turquia é um país de quase 80 milhões de habitantes. A Turquia é um país grande, é um país que tem metade do país europeu, metade do país está no mundo asiático. Portanto, negociando com a Turquia nós estaremos negociando com dois continentes ao mesmo tempo. Mas, sobretudo, a possibilidade de crescimento das exportações e das importações brasileiras é infinita, porque nós temos hoje apenas US$ 1,5 bilhão da balança comercial, o que é pequeno para dois países que, juntos, somam mais de 260 milhões de habitantes. Foi extraordinária a reunião que nós fizemos com empresários da Turquia. A comissão que nós criamos, especial, para discutir negócios, coordenada pelo companheiro Celso Amorim, vai se reunir este ano. Já tem a vinda de ministros da Turquia ao Brasil com delegações empresariais. Eu convidei o primeiro-ministro para voltar ao Brasil ainda este ano, e em agosto, possivelmente, ele já venha, e o presidente talvez venha no ano que vem. E se eles continuarem vindo pra cá com delegações empresariais e nós voltarmos para lá com mais delegações empresariais, a tendência natural é o nosso fluxo na balança comercial crescer, e é o que importa para a Turquia, é o que importa para o Brasil. Eu acho que esse é o papel mais ousado que nós temos que fazer agora, ou seja, garimpar mais. Nós temos que garimpar todos esses países. é lá que nós poderemos vender os nossos produtos. Não é na Alemanha, não é na Suécia, não é nos Estados Unidos. é nesses países que têm similaridade com o Brasil. Por isso eu vou continuar viajando, porque nesse mundo globalizado, a gente não pode ficar esperando que o comprador bata a nossa porta. Os vendedores, como nós que queremos vender, é que temos que sair, bater à porta dos outros e dizer que nós existimos e que temos produtos sofisticados, além das commodities. E eu acho que essa coisa, Luciano, vai permitindo que o Brasil ganhe um espaço extraordinário no mundo econômico, no mundo financeiro e, sobretudo, no mundo industrial.
Apresentador: Muito obrigado presidente Lula. E até a semana que vem.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.
Apresentador: O programa Café com o Presidente volta na próxima segunda-feira. Até lá.
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