Embarcação mais antiga do mundo, com 30 mil anos de vida, primeira fórmula consciente do navio dirigido por mão humana, a jangada navegou por todos os mares da antiguidade. Os povos marítimos a conheceram e a utilizaram como veículo de pesca e de heroísmos. Há 3 mil anos Ulisses já a fabricava com suas próprias mãos, como conta Homero na Odisséia. Os portugueses a encontraram na Índia, de onde transplantaram o termo para o Brasil. O veículo era de uso cotidiano do índio brasileiro (chamado de igapeba ou piperi), registrado e descrito por Pero Vaz de Caminha, em sua carta, com o nome de almadia. Com o tempo, a jangada foi incorporando novos elementos (vela, bolina, remo de governo) e se tornou uma espécie de símbolo da coragem do homem nordestino, em aventuras diárias pelos verdes mares bravios de sua terra natal, como Luís da Camada Cascudo conta e louva em sua insuperável Jangada, o melhor livro até hoje escrito sobre o tema, na bibliografia mundial. Admirador declarado do jangadeiro, Cascudo colheu parte importante de seu material no contato com velhos mestres do ofício, no Rio Grande do Norte, meus professores na jangada e coisas de pescarias. Esse material pulsando vida foi completado pela pesquisa persistente e apaixonante em livros e documentos, publicados ao longo dos séculos. Como acontece em seus estudos, mestre Cascudo oferece ao leitor muito mais do que promete o título da obra. Jangada não se limita a ser uma pesquisa etnográfica, como afirma o subtítulo, mas um passeio erudito pela história, ao longo dos séculos, com incursões pelo terreno do folclore, da sociologia, da economia, a distribuição geográfica, acrescida ainda de uma pequena antologia, e de um vocabulário específico do tema. É uma boa ocasião para embarcar nessa Jangada.