Nem Cidadaos, Nem Brasileiros
Indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos na província de São Paulo (1822-1845)
Esta pesquisa inovadora, que agora sai em forma de livro, mostra que a questão indígena foi um ponto importante durante a formação do Estado e da nação brasileiros, aspecto este que tem sido negligenciado pela historiografia. Os índios, além das mortandades que sofreram no mundo real ao longo dos séculos, também foram eliminados ou minimizados dos eventos históricos, fruto dos preconceitos etnológicos de muitas gerações de historiadores.
Referências basilares de nossa historiografia, como Francisco de Adolfo Varnhagen, Capistrano de Abreu, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda, ressaltaram a importância dos diversos povos indígenas no processo da colonização da América portuguesa. No entanto, estes autores, professando correntes historiográficas bastante distintas, não estavam interessados em colocar os ameríndios no centro da arena, fosse porque este não era o foco de suas análises, fosse porque, via de regra, tratavam a presença indígena como um fator de “atraso”.
Fernanda Sposito mostra como, para os estudos das ciências humanas, a “história dos índios” passou a ganhar fôlego a partir da década de 1970. Isso se deveu ao aporte de novos métodos de análise, em diálogo com a antropologia, a linguística, a arqueologia, além da própria mobilização dos grupos indígenas na luta pelos seus direitos dentro do atual modelo da sociedade brasileira.
Neste trabalho, destacam-se a acurada análise do espectro das permanências e rupturas da formação do Estado nacional brasileiro e o processo de construção de uma política de Estado para com os descendentes dos povos nativos. Seu estudo desdobra-se em duas frentes. De um lado, inquirindo os debates de políticos e intelectuais, com seus projetos e encaminhamentos sobre os índios na Corte e na província de São Paulo. Por outro, vasculhando o cotidiano das relações entre os paulistas e os índios que vivam nos sertões da província. Com isso, a autora mostra como estas duas instâncias da realidade se relacionavam, delimitando o espaço dos índios dentro do Estado nacional em formação, o qual, segundo as regras estabelecidas pelos parlamentares, não poderia ser nem de cidadão, nem de brasileiro.